PRESENCIA PORTUGUESA EN FIESTA ALEMANA/ Nota de Marcio Resende
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A festa é alemã mas o homenageado foi Portugal, que entra para o calendário oficial da terceira mais importante festa da cerveja no mundo. Até uma rua foi inaugurada em homenagem aos portugueses
A
portuguesa Rosa Fernandes, 44 anos, senta-se na primeira fila e olha
para o palco ainda incrédula. Um rancho folclórico português está a
ponto de apresentar-se aqui neste canto remoto do mundo, no meio das
montanhas centrais da Argentina. A presença lusitana surpreende não só
por chegar a esta latitude, mas porque, na festa da cerveja, os
portugueses são como uma ilha cercada de alemães e descendentes por
todos os lados.
Quando os casais do rancho "Dançares da Nossa Terra" rabiscam o chão com rítmicos passos da mais preservada tradição portuguesa, Rosa não se contém: "Estou arrepiada", diz enquanto mostra a pele eriçada de emoção. "Isto é Portugal. É a bandeira do meu país", orgulha-se.
O que ela não percebe ainda é que a história da presença do Dançares da Nossa Terra nesta vila alemã poderia ser a projeção da própria história dela por aqui.
Rosa vive aqui em Villa General Belgrano, província de Córdoba, há cinco anos, depois de ter chegado à Argentina em 1990. O "Dançares" levou sete anos para conseguir participar nesta famosa festa, 23 anos decorridos sobre a sua fundação, em 1992.
"O meu país, tão pequenino e sobre o qual não se ouve falar por aqui, agora ganha visibilidade. É uma forma de sentir-me mais perto", sente.
Villa General Belgrano, a 700 quilómetros de Buenos Aires, é uma pequena cidade de arquitetura bávara, de tradição alemã, colonizada originalmente por 127 familias alemães, 34 suícas, 25 italianas e 19 austríacas. Várias delas encontraram aqui o refúgio ideal depois da II Guerra Mundial. Não é incomum encontrar os antigos a falarem alemão entre si.
Por estes 11 dias de festa, a cidade de 9000 habitantes chega a quintuplicar a sua população. Cerca de 150 mil pessoas vêm à cidade para a terceira maior Oktoberfest do mundo, depois da própria Alemanha e da brasileira na cidade de Blumenau. No total, 15 cervejarias locais abastecem com cerca de 60 mil litros.
"A presença de Portugal leva esta cidade a abrir-se um pouco mais. Denominava-se antes uma cidade alemã. Depois centro-europeia. Agora expande-se até Portugal", observa Rosa Fernandes ,enquanto os dançarinos portugueses levam a plateia a aplaudir de pé.
A Dançares da Nossa Terra nasceu em Buenos Aires, sob a iniciativa de três fundadores que trouxeram do Brasil a ideia de formar um rancho com pequenos dançarinos, de cinco ou seis anos de idade. Aqueles miúdos cresceram e tiveram filhos que hoje seguem a história dos pais. Enquanto as novas gerações renovam o rancho, as famílias ilustram, com a sua própria história de vida, a história da migração portuguesa mais recente na Argentina.
A bisavó Maria do Carmo de Oliveira Rodrigues, de 82 anos, é uma das fundadoras. Saiu de Viana do Castelo aos 26 anos, com o filho Francisco, então com três anos de idade. Francisco, hoje com 60 anos, é um dos músicos do "Dançares". A sua filha Natalia começou a dançar aos seis anos e continua até hoje, aos 28. Casou-se com Pablo da Silva Pais, outro integrante do grupo, que se iniciou nas lides aos oito anos e dança ainda hoje com 30. A filha do casal, Belén Jazmín da Silva Pais, com cinco anos, já faz o caminho dos pais dentro do grupo, e o jovem Benjamín, de quatro meses, já tem destino certo assim que aprender a andar: será o integrante número 36 do rancho.
"Quando começam a andar, começam a dançar", sintetiza Natalia.
No palco da Oktoberfest, o vira do Minho ou o corridinho do Algarve, primeiro despertam a atenção de olhos desacostumados; depois, levam o público à ovação. O grupo foi um dos mais aplaudidos nas três apresentações. E os aplausos são indiretamente a Portugal.
"É mais importante virmos a esta festa alemã do que a uma festa de portugueses. É nas festas dos outros que nos tornamos os verdadeiros embaixadores de Portugal. Os portugueses já nos conhecem. Mas aqui estamos a transmitir a nossa cultura a gente que não a conhece", analisa Francisco. "O rancho é o cantinho de Portugal que temos na Argentina. E este cantinho ocupa um território alemão", conclui.
"Portugal precisa de saber que neste canto remoto do mundo há presença portuguesa e que a nossa cultura está viva. Regamos o nosso espírito com alegria e nada nos alegra mais do que ver a cultura portuguesa viva", emociona-se, aos 70 anos, José Aniceto Domingos, o outro fundador, junto à esposa Gladys. "Portugal sempre está vivo em nós e é isso o que nos mantém vivos. É a nossa vida", desabafa este algarvio que chegou a Buenos Aires aos 13 anos e que decidiu fundar um rancho porque "morria de saudades".
"Portugal vem contribuir com essa ampliação de fronteiras que uma festa da cerveja deve ter. Sempre que tivermos a possibilidade, vamos continuar a ampliar a cultura portuguesa em Villa General Belgrano", aposta Medina, que agora exibe no chapéu alemão a miniatura de duas bandeiras juntas: Argentina e Portugal. Ao lado da alemã, claro. É que o novo espaço conquistado pode até ser português, mas o território ainda é alemão em solo argentino.
Victor Lopes fez da pousada uma verdadeira casa da cultura portuguesa. Com o apoio do autarca local, promoveu artistas, homenagens, apresentações e cursos. Noites de fado e shows de fado com tango, degustações de vinho português, cursos de tecelagem portuguesa e até uma homenagem a José Saramago, que recebeu o apoio de Pilar del Río, e um convite da Universidade de Córdoba a uma exposição. Por isso, Lopes ganhou um carinhoso apelido.
"Nós chamamo-lo de 'Embaixador' em Villa General Belgrano. A pousada San Brás aproximou os habitantes locais de Portugal", conta o presidente da Câmara, Gustavo Medina.
"A pousada é uma espécie de embaixada de Portugal. Através da pousada voltei às minhas raízes. Saí de Portugal muito nova e encontrei aqui uma casa portuguesa", descreve Rosa Fernandes.
Há dois anos a pousada mudou de proprietário, mas o novo dono, Ricardo Faimberg, mantém a decoração temática porque, diz, "os hóspedes transportam-se a Portugal".
"Pela minha profissão de arquiteto, vejo esta pousada com uma conceção portuguesa e eu não descaracterizaria a identidade da obra", explica Ricardo ao som de fados que tocam suavemente o dia inteiro. "Os hóspedes ouvem a música, descobrem o fado e pedem-me para gravar uma cópia. Veem os galos de Barcelos e os livros portugueses e pedem para comprar", descreve Ricardo o interesse dos argentinos que passam pelo espaço.
Quando os casais do rancho "Dançares da Nossa Terra" rabiscam o chão com rítmicos passos da mais preservada tradição portuguesa, Rosa não se contém: "Estou arrepiada", diz enquanto mostra a pele eriçada de emoção. "Isto é Portugal. É a bandeira do meu país", orgulha-se.
O que ela não percebe ainda é que a história da presença do Dançares da Nossa Terra nesta vila alemã poderia ser a projeção da própria história dela por aqui.
Rosa vive aqui em Villa General Belgrano, província de Córdoba, há cinco anos, depois de ter chegado à Argentina em 1990. O "Dançares" levou sete anos para conseguir participar nesta famosa festa, 23 anos decorridos sobre a sua fundação, em 1992.
"O meu país, tão pequenino e sobre o qual não se ouve falar por aqui, agora ganha visibilidade. É uma forma de sentir-me mais perto", sente.
Villa General Belgrano, a 700 quilómetros de Buenos Aires, é uma pequena cidade de arquitetura bávara, de tradição alemã, colonizada originalmente por 127 familias alemães, 34 suícas, 25 italianas e 19 austríacas. Várias delas encontraram aqui o refúgio ideal depois da II Guerra Mundial. Não é incomum encontrar os antigos a falarem alemão entre si.
Por estes 11 dias de festa, a cidade de 9000 habitantes chega a quintuplicar a sua população. Cerca de 150 mil pessoas vêm à cidade para a terceira maior Oktoberfest do mundo, depois da própria Alemanha e da brasileira na cidade de Blumenau. No total, 15 cervejarias locais abastecem com cerca de 60 mil litros.
"A presença de Portugal leva esta cidade a abrir-se um pouco mais. Denominava-se antes uma cidade alemã. Depois centro-europeia. Agora expande-se até Portugal", observa Rosa Fernandes ,enquanto os dançarinos portugueses levam a plateia a aplaudir de pé.
A Dançares da Nossa Terra nasceu em Buenos Aires, sob a iniciativa de três fundadores que trouxeram do Brasil a ideia de formar um rancho com pequenos dançarinos, de cinco ou seis anos de idade. Aqueles miúdos cresceram e tiveram filhos que hoje seguem a história dos pais. Enquanto as novas gerações renovam o rancho, as famílias ilustram, com a sua própria história de vida, a história da migração portuguesa mais recente na Argentina.
A bisavó Maria do Carmo de Oliveira Rodrigues, de 82 anos, é uma das fundadoras. Saiu de Viana do Castelo aos 26 anos, com o filho Francisco, então com três anos de idade. Francisco, hoje com 60 anos, é um dos músicos do "Dançares". A sua filha Natalia começou a dançar aos seis anos e continua até hoje, aos 28. Casou-se com Pablo da Silva Pais, outro integrante do grupo, que se iniciou nas lides aos oito anos e dança ainda hoje com 30. A filha do casal, Belén Jazmín da Silva Pais, com cinco anos, já faz o caminho dos pais dentro do grupo, e o jovem Benjamín, de quatro meses, já tem destino certo assim que aprender a andar: será o integrante número 36 do rancho.
"Quando começam a andar, começam a dançar", sintetiza Natalia.
No palco da Oktoberfest, o vira do Minho ou o corridinho do Algarve, primeiro despertam a atenção de olhos desacostumados; depois, levam o público à ovação. O grupo foi um dos mais aplaudidos nas três apresentações. E os aplausos são indiretamente a Portugal.
"É mais importante virmos a esta festa alemã do que a uma festa de portugueses. É nas festas dos outros que nos tornamos os verdadeiros embaixadores de Portugal. Os portugueses já nos conhecem. Mas aqui estamos a transmitir a nossa cultura a gente que não a conhece", analisa Francisco. "O rancho é o cantinho de Portugal que temos na Argentina. E este cantinho ocupa um território alemão", conclui.
"Portugal precisa de saber que neste canto remoto do mundo há presença portuguesa e que a nossa cultura está viva. Regamos o nosso espírito com alegria e nada nos alegra mais do que ver a cultura portuguesa viva", emociona-se, aos 70 anos, José Aniceto Domingos, o outro fundador, junto à esposa Gladys. "Portugal sempre está vivo em nós e é isso o que nos mantém vivos. É a nossa vida", desabafa este algarvio que chegou a Buenos Aires aos 13 anos e que decidiu fundar um rancho porque "morria de saudades".
Rua República de Portugal
"A partir de agora, é impensável que a Festa da Cerveja seja programada sem a participação de Portugal", indica ao Expresso o presidente da Câmara de Villa General Belgrano, Gustavo Medina, enquanto inaugura a rua República de Portugal, outra homenagem desta aldeia alemã na esquina da Pousada San Brás."Portugal vem contribuir com essa ampliação de fronteiras que uma festa da cerveja deve ter. Sempre que tivermos a possibilidade, vamos continuar a ampliar a cultura portuguesa em Villa General Belgrano", aposta Medina, que agora exibe no chapéu alemão a miniatura de duas bandeiras juntas: Argentina e Portugal. Ao lado da alemã, claro. É que o novo espaço conquistado pode até ser português, mas o território ainda é alemão em solo argentino.
Uma casa portuguesa com cara de Embaixada
Rosa Fernandes mudou-se para a Villa General Belgrano quando soube que havia presença portuguesa na remota aldeia de 9000 habitantes: a pousada San Brás, erguida pelo cidadão português Victor Lopes, em homenagem aos pais de São Brás de Alportel. A pousada temática, um projeto inédito e repleto de elementos da cultura lusitana, despertou a atenção de outras seis antes incógnitas famílias portuguesas pela região que saíram do anonimato.Victor Lopes fez da pousada uma verdadeira casa da cultura portuguesa. Com o apoio do autarca local, promoveu artistas, homenagens, apresentações e cursos. Noites de fado e shows de fado com tango, degustações de vinho português, cursos de tecelagem portuguesa e até uma homenagem a José Saramago, que recebeu o apoio de Pilar del Río, e um convite da Universidade de Córdoba a uma exposição. Por isso, Lopes ganhou um carinhoso apelido.
"Nós chamamo-lo de 'Embaixador' em Villa General Belgrano. A pousada San Brás aproximou os habitantes locais de Portugal", conta o presidente da Câmara, Gustavo Medina.
"A pousada é uma espécie de embaixada de Portugal. Através da pousada voltei às minhas raízes. Saí de Portugal muito nova e encontrei aqui uma casa portuguesa", descreve Rosa Fernandes.
Há dois anos a pousada mudou de proprietário, mas o novo dono, Ricardo Faimberg, mantém a decoração temática porque, diz, "os hóspedes transportam-se a Portugal".
"Pela minha profissão de arquiteto, vejo esta pousada com uma conceção portuguesa e eu não descaracterizaria a identidade da obra", explica Ricardo ao som de fados que tocam suavemente o dia inteiro. "Os hóspedes ouvem a música, descobrem o fado e pedem-me para gravar uma cópia. Veem os galos de Barcelos e os livros portugueses e pedem para comprar", descreve Ricardo o interesse dos argentinos que passam pelo espaço.
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