EMIGRANTES PORTUGUESES POR EL MUNDO. EDITORIAL DEL DIARIO DE NOTICIAS

Portugal para nascer, o mundo para viver


Sábia frase esta do padre António Vieira: "Para nascer, Portugal; para morrer, o mundo." Proferida no século XVII em Roma por um lisboeta que morreria na Baía, sintetiza com tremenda beleza poética aquele que parece ser o destino de um povo. Basta pensar nas Descobertas, feitas a pensar nas especiarias e na mensagem de Cristo, mas que só foram possíveis porque ao domínio da ciência e da técnica os portugueses de Quatrocentos e de Quinhentos juntaram a ousadia de quererem explorar novos mundos; de ir longe, muitas vezes ficar por lá, outras até nunca mais voltar. É certo que nunca fomos muitos neste cantinho da Europa e por isso povoar Brasil, Áfricas e Índia não passava de uma quimera. A solução foi a mistura, ao ponto de ainda hoje haver gente que perdeu a memória dos antepassados portugueses, há gerações que esqueceu a língua e mesmo assim se orgulha de apelidos como Souza, Dias ou Silva. Encontram-se um pouco por todo o planeta, tanto na recepção de um hotel em Cotonu, como num mercado de Bombaim. É que há uma altura em que uma família de emigrantes portugueses se torna em lusodescendentes.
Mas se com as Descobertas tivemos as primeiras vagas de emigrantes, o fenómeno nunca mais parou. No século XX foram muitos os que partiram. Estados Unidos, Brasil, Venezuela, África do Sul, França, Suíça e Alemanha receberam milhares e milhares de portugueses. Os números variam muito. Os dados oficiais dizem que temos hoje um milhão de emigrantes, o sétimo maior contingente mundial. Mas outras contas falam de cinco milhões, ou seja um em cada três portugueses. É excepcional no contexto do planeta. Tirando pequenas nações como Cabo Verde, capaz de ter o dobro da sua gente no estrangeiro em relação aos que ficaram nas ilhas, é uma proporção altíssima. A título de comparação, veja-se a China: o mais populoso país do mundo, com mais de 1300 milhões de habitantes, conta com 40 milhões de expatriados, muita gente em termos absolutos, uma escassa percentagem na realidade.
Por regra, procurar uma vida melhor é a grande motivação de quem emigra. Na década de 1960, quando também se combatia em África, portugueses sem conta partiram para França e Alemanha, empurrados pela necessidade. Ouça-se as suas histórias contadas num café de uma aldeia beirã ou num recanto do Minho, agora que muitos regressaram para viver a sua reforma ao sol, e todos falam da difícil travessia de Espanha, da dificuldade da língua nos primeiros tempos, das saudades de casa, dos filhos que lá tiveram e que muitas vezes acabaram por casar--se, ficar e lá ter filhos. Nesses anos 60, o País até perdeu população. Os nascimentos não compensaram as partidas. Foi, pois, uma década única, também a última completa de uma ditadura que nos mantinha pobres e em guerra, e que preenche ainda hoje com muita força o imaginário português.
Partem para viver melhor, mas também ajudam muito o País. As remessas dos emigrantes atingiram no ano passado 2,4 mil milhões de euros, qualquer coisa como 1,4% do PIB. Mas já houve tempos em que andaram nos dois dígitos. Por exemplo, em 1985, último ano antes da entrada na então CEE, ainda valiam mais de 10% do PIB. Chega menos dinheiro porque são menos, mas pesa menos também porque o País se desenvolveu, passou a criar mais riqueza.
Agora que se vive uma séria crise, muitos voltam a emigrar. É a terceira vaga mais forte no espaço de cem anos, mas que tem características novas. Os destinos são cada vez mais diversificados, e quem emigra também possui qualificações superiores às do passado.

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